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Hoje é dia: 19/04/2024



Texto da apostila traduzida por Igor Lintz Maués (1985) quando professor da UNESP.
Fragmento traduzido: Prefácio


Alguns não deixarão possivelmente de se admirar que me tenha proposto a escrever a respeito de música quando existem tantos trabalhos de homens destacados que trataram o assunto mais minuciosa e doutamente; e mais particularmente, de que eu tenha agido assim logo nesses tempos quando a música se tornou praticamente arbitrária e os compositores se recusam a ser limitados por quaisquer regras e princípios, odiando mesmo os termos Escola e Lei como a própria morte. Por isso quero deixar meu propósito claro.

Tem certamente havido vários autores famosos pelo seus ensinamentos e competência, que têm deixado uma abundância de trabalhos em teoria da música (musica speculativa); mas sobre a prática de escrever música (musica activa) eles disseram muito pouco, e esse pouco não é facilmente entendido. Geralmente, eles se contentaram em dar alguns parcos exemplos, e nunca sentiram a necessidades de inventar um método simples pelo qual o iniciante possa progredir gradualmente, ascendendo degrau por degrau para alcançar maestria nesta arte. Nem os mais ardentes inimigos de Escola, nem a corrupção dos tempos devem me desencorajar. Remédio é fornecido ao doente, e não àqueles que estão em boa saúde. Contudo, meus esforços não cuidam nem me considero com forças de estancar o curso de uma torrente correndo precipitosamente além dos seus limites. Não acredito que eu possa chamar os compositores de volta da insanidade incontida de sua produção, para, padrões normais. Deixemos que cada um siga sua própria opinião. Meu objetivo é ajudar os jovens que querem aprender. Conheci e continuo a conhecer muitos que possuem excelentes aptidões e estão realmente ávidos para estudar; contudo, na falta de meios e um professor, não podem realizar sua ambição, mas continuam como antes, para sempre desesperadamente ansiosos. Procurando uma solução para esse problema, comecei portanto, vários anos atrás, a desenvolver um método similar ao pelo qual as crianças aprendem primeiro letras, depois sílabas, depois combinação de sílabas e finalmente, como ler e escrever. E isso não foi em vão. Quando utilizei esse método no ensino, observei que ou alunos fizeram progresso assombroso em curto espaço de tempo. Então achei que prestaria tem serviço à arte se o publicasse para o beneficio dos jovens estudantes, e repartisse com o mundo musical a experiência de quase trinta anos, durante os quais servi três imperadores (pelo que devo com toda modéstia me orgulhar). Além disso, como Cícero cita de Platão: " Nós não vivemos apenas para nós mesmos; nossas vidas pertencem também ao povo, aos nossos pais e a nossos amigos". O senhor notará, caro leitor, que dei muito pouco espaço neste livro para a teoria e muito mais para a prática, desde que (o resultado o confirma) esta era a mais necessária. Finalmente, para o bem da melhor compreensão e maior clareza, eu me servi da forma de diálogo. Por Aloysius, o mestre, refiro me à celebre Luz da Música de Praeneste (ou como dizem outros, Praeeste), a quem devo tudo que sei desta arte, e cuja memória não cesso de estimar com um sentimento de profunda reverência. Por Josephus tenho em mente o aluno que deseja aprender a arte da composição. No mais, não se ofenda com a simplicidade de meu estilo, pois não clamo por outro latim que a do viajante retornando a uma terra a qual uma vez chamou de lar. E eu preferiria antes ser inteligível a parecer eloqüente. Adeus, aproveita e sê Indulgente. Se, leitor benevolente, achares desvios da maneira adequada de se apresentar algo. Confio que haverás de os aceitar com mente tranqüila.

J. J. Fux (1725)