Hoje é dia: 10/10/2025
Orlando Marcos Martins Mancini
A função da linguagem é descrever a realidade, porque em rigor nada pode ser dado fora da linguagem.
Os limites da minha linguagem significam os limites do mundo (5.6)
Que o mundo é meu mundo revela-se no fato de os limites da linguagem (da linguagem que apenas eu compreendo ) significarem os limites do meu mundo" (5.62)
Ludwig Wittgenstein (1889-1951)
De modo permanente, as orelhas nos proporcionam informações indispensáveis à nossa sobrevivência. Informam-nos acerca de acontecimentos em nosso entorno que não podem ser vistos, tateados, saboreados, cheirados e que, no entanto, "falam-nos", "brindam-nos" com vários conhecimentos essenciais que necessitamos para podermos funcionar de modo mais efetivo.
Uma das principais funções de nosso aparato auditivo é a de converter sequências de vibrações mecânicas em estímulos de células nervosas que, conduzidas até o cérebro, são percebidas como som. Para isso o aparato auditivo tem três partes ou seções claramente identificáveis. Essas três seções estão interconectadas e são denominadas de parte: externa, média e interna. Cada uma delas tem funções específicas dentro do complexo denominado de percepção sonora.
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[***] Fonte e mais informações: http://www.ionizados.com/2010/12/psicoacustica-la-naturaleza-del-sonido.html. (último acesso em 01 de setembro de 2013).
O som pode nos afetar, pelo menos, de quatro maneiras.
O cérebro cria a percepção de seu entorno a partir de informações que são proporcionadas pelos sentidos. Na presença dos sons podemos segregar hormônios, modificar nosso ritmo respiratório ou o ritmo de nossos batimentos cardíacos. Porém, existem situações em que o cérebro se equivoca e o que percebemos não corresponde à realidade. Essas situações são possíveis quando interagem modalidades sensoriais diferentes, como a visão e a audição, o que vemos modifica o que estamos ouvindo, e vice-versa.
Em nosso vocabulário dispomos de muitas palavras para definir as impressões recebidas do mundo exterior. Os eventos que nos rodeiam e que formam os fenômenos tem, normalmente, muitas palavras que referenciam suas formas, os seus sabores, os seus cheiros e outras qualidades ligadas concomitantemente aos vários sentidos humanos. No entanto, apesar de sua presença constante nesses eventos, os sons contam com um léxico muito mais escasso e, na maioria das vezes, quase inexistente. Isso faz com que, na apreciação desses eventos, nossa interpretação possa variar significantemente quando a percepção desses sons presentes esteja inferida. Ou seja, nossa interpretação de determinados fatos (reais ou virtuais) é constituída também, muitas vezes de modo decisivo, pela apreciação dos sons a eles associados[1].
O que denominamos de percepção sonora é o resultado complexo de processos fisiológicos, psicológicos, condutivos e cognitivos que se produzem no nosso corpo e que, em última instância, permitem-nos interpretar o que foi escutado. Uma parte indispensável desse complexo se dá no momento da apreensão sensível das propriedades do som (intensidade, tom, timbre etc.) determinadas pelos seus atributos físicos objetivos (frequência, amplitude, forma de onda etc.). Esse momento de apreensão é objeto da Psicoacústica.
A psicoacústica, portanto, é um ramo, ou seja, uma subdisciplina da psicofísica[2] que estuda a relação existente entre estímulos sonoros externos (estímulo de caráter físico) e as reações sensitivas (auditivas) decorrentes destes estímulos (a resposta de caráter psicológico). Em outras palavras, estuda a relação entre as propriedades físicas do som e a apreensão sensível no cérebro. Desse modo, os estudos psicoacústicos concentram-se, inicialmente, no comportamento do sistema auditivo, ou seja, no "Processo de audição".
As origens desse campo de estudo remetem há mais de um século, aos primeiros esforços para quantificar as propriedades psicológicas do som. A audição humana é um processo extraordinariamente complexo. Ela permite discernir o movimento do som com um grau surpreendente de precisão. Ela pode distinguir o timbre e a diferença entre um clarinete e um saxofone soando com a mesma melodia. A audição pode se lembrar de padrões de fala, identificando imediatamente um amigo que volta a telefonar anos depois da última vez que se ouviu sua voz.
É enfatizado que o início desse processo se dá quando um estímulo exterior (onda sonora mecânica) golpeia insistentemente o tímpano e é convertido das variações na pressão do ar a impulsos nervosos. Daí em diante, é assunto da mente, e a psicologia se converte em fator importante para estudar e analisar os sons, bem como as reações das pessoas diante deles.
Em todo esse processo, a conexão da psicoacústica com a psicologia pode resultar bastante confusa. Muitos dos problemas abordados pela psicoacústica têm muito pouco a ver com o objeto comum da psicologia. Por exemplo, existem algumas investigações concernentes com a sonoridade e como esta é representada pelas células nervosas no ouvido. Algumas pessoas poderiam pensar que isso seria uma matéria concernente à neurofisiologia e, de fato, o é. Não obstante, onde um fisiologista aborda o problema aplicando-lhe um eletrodo num processo laboratorial, um psicoacústico o aborda mediando a capacidade do ouvinte em obter discriminações entre sonoridades escolhidas cuidadosamente.
O fato de tratar de medir as reações no comportamento dos ouvintes é, basicamente, a razão pela qual a psicoacústica é considerada, também, como um ramo da psicologia. Entretanto, a psicoacústica não se atém em como a audição dos sons produzem respostas emocionais ou cognitivas particulares, escopo este pertencente à área da psicologia cognitiva. O que se deve ter em mente é que a psicoacústica é uma área muito ampla e para poder lograr resultados experimentais mais complexos e efetivos, se intersecciona, por um extremo, com a fisiologia, e por outro, com a psicologia clássica.
Algumas das investigações psicoacústicas mais valoradas são:
Qual é o mecanismo que possibilita distinguir sons que ocorrem simultaneamente?
Como se localiza a origem de um som no espaço?
Como é determinado o tom de, por exemplo, um instrumento musical?
Nesse viés, a psicoacústica pode ser definida simplesmente como o estudo psicológico da audição. O objetivo da investigação psicoacústica é averiguar como funciona a audição. Em outras palavras, o objetivo é descobrir como os sons que entram nas orelhas são processados pelo órgão auditivo e o cérebro, visando transformá-lo, na pessoa que escuta, em informação acerca do mundo exterior.
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[1] Muitas indústrias atuais levam em conta a influencia das sonoridades no processo de elaboração de seus produtos.
[2] Psicofísica, é a área da ciência que estuda as relações entre as sensações subjetivas e os estímulos físicos e estabelece relações quantitativas entre eles. Dentre os mais famosos estudiosos dessa área estão os psicólogos Wilhelm Wundt e Gustav Theodor Fechner e o fisiólogo Ernst Heinrich Weber que estebeleceram diversas leis que levam seus nomes.
A Lei de Weber-Fechner diz que quanto mais intenso um estímulo maior a diferença necessária para que seja percebida uma diferença entre eles. Ou seja, para estímulos pequenos uma pequena diferença é suficiente enquanto para estímulos grandes é necessário uma grande variação para que tenha diferença nas sensações associadas. Fechner acrescentou que essa mudança segue uma constante. Dentre termos importantes em psicofísica estão o de limiar absoluto, que é o mínimo de um estímulo que causa uma sensação, e o de limiar diferencial ou diferença no limiar do observável que é a diferença mínima entre dois estímulos para que seja discriminada alguma diferença entre eles. (SS Stevens, SS Stevens, G Stevens (1986) Psychophysics: Introduction to its perceptual, neural, and social prospects. books.google.com Disponível em: http://books.google.com.br/books?hl=pt-BR&lr=&id=r5JOHlXX8bgC&oi=fnd&pg=PR13&dq=psychophysics&ots=4lgUH4VOfF&sig=ipSEmCaaPbRFiE255k5oMdjEvpE#v=onepage&q&f=false). A psicofísica tem diferentes ramos, um deles é a psicoacústica.
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